História

História

A história do Moreno começa praticamente com a chegada, entre nós, de dois irmãos portugueses, um dos quais se chamava Baltazar Gonçalves Moreno e adquiriu, no dia 29 de fevereiro de 1616, ao judeu converso Carlos Francisco Drago, por vinte e dois contos e quatrocentos mil réis, um engenho bem montado, com extensos canaviais, sediado à margem do rio Jaboatão, “a oeste Santo Amaro (Jaboatão) e nos limites da Zona da Mata, até então desbravada pela lavoura canavieira”.

Assim, a origem do município do Moreno (inicialmente, arraial de Catende, depois vila Nathan, vila de Morenos, cidade de Morenos e, atualmente, cidade do Moreno) decorreu da presença de Baltazar e Gaspar Gonçalves Moreno (conhecidos como irmãos Moreno).

Depois da guerra holandesa, os herdeiros de Baltazar venderam o engenho (mais conhecido pelo nome do proprietário: engenho do Moreno Gordo ou do Moreno), aparecendo como compradora à condessa de Penaguião (que o herdara da filha ou do genro), fidalga lisboeta, então viúva do 3° Conde de Penaguião (titulo da Casa dos Sá e Menezes). Era ela irmã do 6° Conde de Atouguia, que foi nomeado Governador Geral do Brasil em 1654, e sogra do General Francisco Barreto – o Restaurador – que foi Governador de Pernambuco (até 1657), de onde passou à Bahia para governar o Estado do Brasil. Em 1689, a Condessa de Penaguião vendeu o engenho Morenos a João de Barros Rego, Capitão-mor de Olinda, que se tornou dono de vasta extensão territorial – do Jaboatão à Tapera –, onde depois chegou a possuir não menos de doze engenhos: Morenos (nele sucederam-se vários Barros Rego), Quiaombo, Buscau, Capim-assu, Estiva, Jaboatão, Camarão, Pereiras, Xixaim, Pintos, sapucaia e Viagens. Outros proprietários ocuparam a bem montada fábrica de açúcar de Baltazar Gonçalves Moreno, antes da mesma passar às mãos do Coronel Joaquim Pereira Viana (sogro do tenente-Coronel Felipe de Sousa Leão). Foi a um primo, filho deste, bom vivant e endividado, que Antonio de Sousa Leão (futuro Barão de Morenos) comprou o engenho (terá sido em mil oitocentos e cinqüenta e poucos, ignorando-se a data certa por se ter queimado a respectiva escritura quando do incêndio da Câmara Municipal do Jaboatão, ocorrido no século XIX, onde estava o tabelionato). Antonio de Sousa Leão era filho do Tenente-Coronel Felipe de Sousa leão e de Rita Cássia Pessoa de Melo e irmão do Visconde de Campo Alegre (Joaquim de Sousa leão) e do Senador do Império Luiz Felipe de Sousa Leão, e chegou a possuir oito engenhos: Morenos, Catende, Xixaim, Viagens, Pitimbu, Carnijó, Bom-dia e Brejo. Convém notar que pouco depois de Baltazar Gonçalves Moreno, chegava a Pernambuco Domingos de Sousa Leão, português de nobre estirpe, que foi residir na freguesia de Santo Amaro (Jaboatão), onde constituiu família. Do seu único filho, outro Domingos de Sousa Leão, descendeu, João de Sousa Leão, que foi pai de Felipe de Sousa Leão e avô de Antonio de Sousa Leão (que foi agraciado, no dia 24 de agosto de 1870, pelo Imperador D. Pedro II, com o titulo de Barão de Morenos). Domingos de Sousa Leão era proveniente da chamada Casa do Moreno, sita no lugar do Sobrado, freguesia de São Miguel de Rans, na Arrifina de Sousa, comarca de Penafiel, Bispado do Porto (Portugal).

Morenos é um dos engenhos do Nordeste cuja história remonta talvez ao nosso primeiro século e pode ser acompanhada desde suas origens. Nossa Senhora da Apresentação foi o primitivo nome e é a padroeira da sua capela. No mapa de 1665, da “Capitania de Pharmanboque”, de autoria do cartório holandês Vingboos (Biblioteca do Vaticano), aparece assinalado engenho Apresentação à oeste de Santo Amaro (Jaboatão) e nos limites da Zona da Mata, até então desbravada pela lavoura do açúcar. Já era Jaboatão próspera paróquia (ereta em 1586) quando ocuparam os holandeses Pernambuco e contava no seu tremo nove engenhos, entre eles Nossa Senhora da Apresentação, pertencente a Baltazar Gonçalves Moreno. Não foi porém Baltazar o fundador de Nossa Senhora da Apresentação. Um alvará de 1618, Chancelaria de Felipe III (Torre do Tombo), revalidou a venda efetuada pelo marrano (judeu converso) Carlos Francisco Drago, em 29 de fevereiro de 1616, a dito Baltazar, do engenho dessa invocação, “sito na Ribeira do Jaboatão”, validação necessária pela Lei que proibia a “gente de nação” vender os seus bens sem licença real. Havia, pois, de ser do começo do século XVII, senão mesmo de fins do XVI, a fundação do engenho. Uns quarenta anos terão então ficado em mãos de Baltazar Gonçalves Moreno, que só o perderia depois da restauração. Mas o curioso é que, nas Atas (“Dagelikse Notule”) do Alto Conselho do Recife reapareça ele (13 de março de 1642) como comprador de Nossa Senhora da Apresentação de um Duarte Dias Henrique, “cujos herdeiros residiam em Castela”, e pela soma descomunal de 120.000 florins, mediante vinte prestações vencíveis por ocasião das safras. Consta, aliás, da referida Ata que o ladino Baltazar apenas efetuara os primeiros pagamentos. Devido à ausência dos proprietários e à ocupação, continuava devedor. O único meio de regularizar sua posição era propor à Companhia entregar-lhe o engenho para, a seguir, readquiri-lo em termos mais vantajosos. Com a entrega de Apresentação, não só reduzia Baltazar Gonçalves Moreno consideravelmente o preço, prevalecendo-se do seqüestro pela mesma decretada das propriedades de ausentes, como se habilitava a recorrer aos créditos que a Companhia vinha estendendo para a recuperação dos engenhos.

O seguinte nome do proprietário de Nossa Senhora da Apresentação (depois engenho Morenos) a emergir de documentos é a Penaguião. Conforme uma escritura de compra e venda de 1689, trasladada da demarcação do engenho Pintos, efetuada em 1844 (Tabelião Valois, do Jaboatão), o procurador da Condessa vendeu Morenos, a João de Barros Rego, Capitão-Mor de Olinda. Seguiram-se-lhe o mascate Antonio Rodrigues Campelo (1714), Domingos Bezerra Cavalcanti (1731), Simão Pereira da Silva e Coronel Joaquim Pereira Viana (1823). Por último, Antonio de Sousa Leão (futuro Barão de Morenos), que o comprou a um primo. Morenos permanece em poder da mesma família (SOUSA LEÃO) há mais de cem anos. Fica assim traçada a linha de sucessões no senhorio do engenho Morenos desde sua fundação, ao longo da qual desfilam nomes de ressonância histórica ou aparentados à antiga prosápia pernambucana.

A historia da nossa cidade está mesmo de certo modo ligada ao inicio da guerra de restauração. Segundo relata Nieuhof – o historiador holandês da revolução pernambucana –, foi do engenho de Baltazar Gonçalves Moreno que, depois de andarem recrutando gente pelo Cabo e Ipojuca, saíram os conjurados, Amador de Araújo, Pedro Marinho e João Paes Cabral, para se juntarem às tropas de João Fernandes Vieira. Disso avisado e recebidas as instruções solicitadas do Recife, marchou o Coronel Haus do seu quartel de Muribeca para o Engenho MORENOS, a fim de dar caça aos revoltosos antes que recebessem estes os reforços esperados. E, na versão mais circunstanciada de Calado, havia sido, “no engenho de Baltazar Gonçalves Moreno” que o Capitão mor Amador de Araújo deixara o Capitão Domingos Fagundes com ordens pa ali aguardar o resto dos aliciados que tinham ficado para trás e para lhe dar aviso da aproximação do inimigo. Mais adiante refere o cronista que o chefe holandês chegou com sua tropa avançada ao “engenho do MORENO GORDO”, onde o mulato Fagundes, que a seguir daria tantas provas de sua valentia, o recebeu a fogo. Brigando quase três quartos de hora, de recuo em recuo, conduziu os holandeses para o “empinado monte cercado todo de tabocais”, que os nossos haviam escolhido para oferecer o combate depois de terem estado acampados no sítio do Covas. Pode-se, pois, dizer que a batalha do Monte das Tabocas (03 de agosto de 1645) começou no engenho MORENOS, como ai se verificaria o seu epílogo, pois que, retirando-se Haus, derrotado, durante a noite, foi, no engenho – distante légua e meia – que fez alta, para de lá relatar a sua primeira “parte” ao Alto Conselho.

Sete dias depois, chegaram a João Fernandes Vieira a nova do socorro que lhe mandava da Bahia o Governador Geral, saiu-lhe ao encontro. No dia seguinte, também se alojava o “Governador da Liberdade” no engenho de Baltazar Gonçalves Moreno. Já mesmo dantes, era o engenho Nossa Senhora da Apresentação mais conhecido pelo nome do proprietário. Moreno Gordo ou do Moreno. Jan de Laet remove qualquer duvida sobre a identidade do local e da pessoa ao referir que o Coronel Arciszewsk perseguindo a Camarão, pernoitou com sua tropa a 25 de setembro de 1936, e novamente a 4 de dezembro, no “engenho de Baltazar Gonçalves Moreno – Moreno Gordo”, cujos sustos desde então não terão sido poucos nem pequenos já que pelo engenho passava, de Goiana para o sul, “os limites para trás dos quais se deviam retirar… os nossos habitantes portugueses…” (edital do Conselho do Recife, de setembro de 1936), a fim de evitar contatos com os campanhistas “.

Antonio de Sousa Leão, filho do Tenente-Coronel Felipe de Sousa Leão e de Cássia Pessoa de Melo, nasceu no engenho Tapera, de propriedade de seu pai a 11 de junho de 1808. era irmão de João Felipe (pai da Baronesa de Caxangá), José Felipe (desembargador), Joaquim (Visconde de Campo-Alegre), Luiz Felipe (Senador do Império), Inês Escolástica (Baronesa de Tabatinga), Miguel Felipe, Manoel Felipe, Maria de Jesus Inácia, Francisca de Paula, Ana Marcelina e Maria da Conceição. Pai de Antônio, Rita Clara, Inês Amélia, Maria Cândida, Luiza, André e Joaquim de Sousa Leão (engenheiro, segundo varão que herdou, por testamento, o engenho Morenos) avô do bacharel Antonio de Sousa Leão Filho (presidente do primeiro Conselho Municipal do Moreno), Adalgisa, Maria dos Anjos, Perminio, Leopoldina, Luiz, Maria de Lourdes, Maria Isabel, Maria Cristina, Beatriz, Inês, Jaime, Tomaz, Maria Amélia, Helena, Luiz Antonio (engenheiro) e doutor Joaquim de Sousa Leão Filho.

Aos 21 anos, foi ele provido Alferes do Regimento de Cavalaria Ligeira de 2ª linha, que lhe foi conferido em 1829. assassinado o pai em 1832, frente à casa grande, por vil assalariado – mera questão de terra – Antonio, o mais velho dos quatorze órfãos, tomou sobre os ombros a responsabilidade da família. Só depois que os encaminhou na vida e se formou o benjamim deles, julgou-se habilitado a casar. Tal era a tempera do homem.

Maria Leopoldina de Souza Leão, irmã do Visconde de Tabatinga e da Baronesa do Jaboatão, foi a primeira legítima que ele desposou em 1854, já quarentão. Trouxe-lhe um dote, aplicado na melhoria do engenho. Sob nova e competente direção, tornou-se Morenos a propriedade agrícola numero um do Jaboatão, como se verifica de um quadro estatístico de 1857, de autoria de João Francisco Paes Barreto.

Foi eleitor, Juiz de Paz e presidente da Câmara Municipal do Jaboatão (pertencia ao Partido Liberal) que instalou à sua custa.

Por ocasião da vista a Pernambuco dos Imperadores, em 1859, o já Comendador (desde 1855) da Imperial Ordem de Cristo, Antonio de Sousa Leão foi um dos cinco encarregados dos preparativos da recepção a S. S. M. M. I. I. e especialmente incumbido da hospedagem em palácio (Recife). Agraciou-o S. M., o ano seguinte, com outra Comenda, a da Rosa. Em 1868, promoveu-o Dom Pedro II a Dignitário da Imperial Ordem da Rosa e, no dia 24 de agosto de 1870, concedeu-lhe o titulo de Barão de Morenos (brasão de armas igual ao do 2° Barão de Vila Bela). A Baronesa, porém, seria sua segunda mulher, Maria Amélia de Pinho Borges, filha do Barão de Pinho Borges, com quem ele casou em 1864, após curta viuvez. Jovem e prendada, concorreu para o prestígio social que irradiava do solar de Morenos e de seus salões do Recife.

 

FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA
11 de setembro de 1928: libertação de um povo que, explorado por mais de dezoito anos, acordou para uma realidade de progresso

Há 50 anos, os habitantes do povoado de Catende, elevados à categoria de Vila de Morenos lutavam desesperadamente por sua emancipação política. A Prefeitura de Jaboatão arrecadava, pontualmente, impostos e taxas, mas não dava nenhuma atenção ou assistência aos munícipes aqui residentes. A SOCIETÉ COTONIÈRE BELGE-BRÉSILIENNE S.A era a razão de ser do povoado de Catende. Igreja, cemitério, luz, centenas de residências, campos de futebol, clubes recreativos, bandas de músicas, assistência médica-odontológica, tudo era mantido pela empresa que se organizara em Antuérpia (Bélgica).

Nos primeiros dias de mês de julho de 1928, correra notícia de que poderosas forças ocultas eram contrárias a nossa emancipação política, convindo salientar que o Coronel Francisco Brandão Cavalcanti, prefeito do município vizinho, e o dr. Luiz de Gonzaga Maranhão, proprietário do Engenho Macujé e influente chefe político da terra de Bernado Vieira de Melo, não se mostravam desfavoráveis às nossas pretensões. A oposição partira dos políticos profissionais que manipulavam o eleitorado morenense. Então, todo mundo começou a exigir a libertação da Vila de Morenos. Industria, comércio, agricultura, operariado, intelectuais e estudantes formaram uma corrente pra frente.

O autor desta monografia (que militava na imprensa local de primeiro de janeiro de 1922, quando circulou o primeiro número do CORREIO DE MORENOS) botou a boca no trombone. Procurou o dr. José Vicente Lopes Vilas Boas, advogado da fábrica e jornalista; dr. Antonio de Souza Leão, proprietário do Engenho Morenos (neto do Barão); médico José Paulo de Aguiar, farmacêutico Cândido de Moraes Filho, senhor de engenho Elviro de Souza Leão e srs. Luiz Benedito Ferreira da Silva e João Joaquim Pequeno.

Formou-se uma comissão para ir ao Palácio da Praça da República (hoje Campos das Princesas) a fim de ter um entendimento com o governador Estácio de Albuquerque Coimbra. Sua excelência confirmou que sérios obstáculos se antepunham à criação do novo município. Obra de inimigos gratuitos da Vila que se formara em torno de uma tosca chaminé de fábrica de tecidos de algodão, causando inveja e muitas cidades pernambucanas. O culto e integro estadista dos Barreiros (ex-vice-presidente da República, injustiçado até hoje, por prefeitos e vereadores) após meia hora de audiência, ouvindo com atenção os nossos componentes da nossa delegação, disse-lhes: "A Vila de Morenos será incluída na relação dos novos municípios".

E a promessa foi cumprida. A Lei Estadual Nº 1.931 de 11 de setembro de 1928, criou o município de Morenos (topônimo simplificado pelo Decreto-Lei Nº 235, de 09 de dezembro de 1938), retirando 185 km² do município de Jaboatão e concedendo à sede municipal foros de cidade.

 

HINO MUNICIPAL
Terra de trabalho
de progresso e de labor.
Onde impera a confiança
de ter paz e ter valor.

Salve! bela cidade
tens passado que nos honra
E com teus montes ensinas
ser Moreno valorosa
Terra das verdes colinas

Broto de engenho.
De Catende és tradição
Da nobreza tens origem
teu emblema é um brasão.

Povo dedicado
a servir sem relutar
tendo por lema: o trabalho vai Moreno a caminhar...

Letra: Sevy Rocha
Música:Dy Portela